CCR deslancha neste ano plano de reposição do portfólio de ativos

A CCR, maior companhia de infraestrutura do país, vai acelerar neste ano a estratégia de reposição de portfólio, desafio considerado imprescindível para o futuro da empresa. Três concessões – das 15 em que é controladora – respondem por 43% dos dividendos enviados para a holding e seus contratos terminam nos próximos cinco anos: Via Oeste, Rodonorte e Nova Dutra.

O presidente da CCR, Renato Vale, diz que a necessidade de renovação da carteira para perpetuar a empresa não é uma agenda que surgiu agora. Tanto que a CCR concluiu recentemente um ciclo de investimentos deflagrado em 2012, desde quando apostou sobretudo em aeroporto e mobilidade urbana. São ativos mais recentes o Metrô Bahia, o VLT Carioca, o aeroporto mineiro de Confins (e outros no exterior), a Via Rio e a MS Via.

Quase todos os empreendimentos estão concluídos. Mas ainda não geram dividendos. “Investimento em infraestrutura leva de oito a dez anos para ter um fluxo de caixa positivo e começar a dar retorno em forma de dividendos”, disse Vale. Hoje, a maior pagadora de dividendos é a Autoban (Sistema Anhanguera-Bandeirantes), com 50,6% do total, e cujo contrato vai até 2027. Segundo ele, a CCR já vem investindo nessa reposição. Mas “muito provavelmente não no nível de manter esse patamar ‘ad eternum’. Temos de manter a perpetuidade com o mesmo nível de resultado. Então ainda faltam novos investimentos”, diz. A CCR é uma das interessadas no leilão do Trecho Norte do Rodoanel, que ocorre hoje, na B3.

Para um analista de mercado, o preço da ação da CCR está supervalorizado levando em conta o atual portfólio da empresa. “Quem compra tem que acreditar que a empresa vai colocar novos projetos para dentro e com boas taxas de retorno”, diz a fonte que pede sigilo.

Vale recusa um certo senso comum de parte do mercado de que a CCR só entra em projetos com altas taxas de retorno. Dá como exemplo a rodovia Dutra, licitada nos anos 90 e que nunca atingiu o retorno esperado de 17%. “O ambiente era todo hostil e o prognóstico de curva de tráfego ficou sempre menor do que a gente estimava. Mas ela dá resultado”, pondera. E diz que, em um cenário macroeconômico positivo e de risco regulatório menor que o atual, não há problema trabalhar com retornos menores, como entre 8% e 10%.

Exatamente em que investir o executivo não abre. O foco óbvio hoje é em rodovias, aeroportos e mobilidade urbana. Mas Vale recusa qualquer aposta que limite a atuação da companhia. “Há necessidade de investimento em todo lado. E nosso negócio é infraestrutura. Hoje no Brasil há poucos ‘players’ prontos para fazer face a isso. O momento nos é favorável.”

A companhia se preparou nos últimos dois anos para dar o que Vale chama de novo salto de crescimento. Está com caixa cheio após uma capitalização de R$ 4 bilhões em fevereiro de 2017, também no ano passado promoveu uma reestruturação organizacional que dividiu a empresa em quatro grandes áreas, e reduziu o nível de endividamento.

Avalia oportunidades tanto no mercado primário – há uma série de ativos a serem licitados e relicitados neste ano – quanto no secundário. Mas isso não significa simplesmente que a empresa irá entrar em qualquer concorrência ou comprar empresas a qualquer preço. A diretriz é fazer investimentos que atendam o tripé poder concedente, usuário e investidor.

No mercado, há quem avalie que o desafio da CCR de renovar seu portfólio com a mesma rentabilidade e volume de dividendos atuais é tarefa árdua. “O risco que a empresa corre é deixar de ser a líder do setor ou ficar menos relevante principalmente com a chegada mais agressiva dos estrangeiros”, disse uma fonte.

De acordo com essa fonte, para renovar o portfólio e ter efeito rápido, só por meio de fusão e aquisição. Mas grupos estrangeiros saíram na frente da CCR para negociar alguns dos ativos que estavam na mira da brasileira, como os da Invepar e da Odebrecht Transport. Até agora, porém, nada foi fechado. Sobre os dois casos, Vale diz: “Olhamos e continuamos acompanhando com o maior interesse.”

“E tem um negócio que todo mundo esqueceu. Compramos um terreno para fazer um aeroporto em Caieiras (SP). Continuamos estudando a tese, continuamos pensando nele”, disse Vale, destacando ainda oportunidades fora do país.

O banco UBS listou recentemente 27 ativos na América do Sul que podem atrair o interesse da CCR. Entre os projetos em destaque estão diversas rodovias no Chile e na Argentina e os metrôs de Bogotá, na Colômbia, e de Lima, no Peru, com aportes que variam de R$ 200 milhões a R$ 18 bilhões.

Há ainda contratos da própria CCR e de outros grupos que vão terminar no médio prazo. “Somos um ‘player’ natural para participação das relicitações”. Dificilmente, por exemplo, a CCR perderia uma relicitação da Autoban. E é considerada candidata natural no novo leilão da Dutra, que o governo listou no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) para ocorrer no quarto trimestre.

“É um ativo bom que poucas empresas terão balanço suficiente para fazer os investimentos pesados dos primeiros anos. Por isso a CCR, que já opera o ativo, tem uma vantagem competitiva para disputar o leilão”, diz Victor Mizusaki, analista do Bradesco BBI.

Fonte: www.valor.com.br – 10/01/2018 – Por Fernanda Pires e Rodrigo Rocha