Como calcular o valor das startups
Apesar de usarmos matemática para calcularmos o valor das companhias, grande parte do processo esta relacionado à imaginação
Como princípio deveríamos calcular o valor das startups da mesma forma como calculamos o valor das empresas maduras. Contudo, a valoração é mais difícil pela maior incerteza com relação ao seu futuro.
Há risco de startups não conseguirem iniciar suas operações ou de não se desenvolverem. Seus modelos de negócios podem ser copiados ou mesmo não atraírem pessoas e clientes. As incertezas são diversas e tendem a estar associadas a mudanças de mercado ou mesmo à reação de concorrentes.
Apesar de usarmos matemática para calcularmos o valor das companhias, grande parte do processo esta relacionado à imaginação. Calculamos o valor das companhias imaginando como será o seu futuro em termos de geração de caixa.
Quando possuímos um histórico ou um comparativo é mais fácil para imaginarmos o que pode acontecer. Porém, valuation (avaliação de empresas) é baseada em uma percepção de futuro, ou seja, não se pode afirmar o que efetivamente vai acontecer.
Sendo assim, como há risco daquilo que imaginarmos para o futuro não acontecer, não há como afirmarmos com certeza quanto uma empresa realmente vale.
Um dos maiores mitos em relação à valuation é o de que há um valor justo para as empresas.
Valor justo não existe, é uma ilusão pois valuation não é uma ferramenta de precisão. O que calculamos é um valor baseado em nossas próprias percepções de futuro em relação à companhia.
Como percepção é algo muito particular, cada um pode perceber um valor diferente e propor um preço que muitas vezes não atende o valor que imaginamos.
Mas para que serve valuation?
Geralmente as pessoas acreditam que seu objetivo é exclusivamente o de calcular o valor. O real objetivo deveria ser o de calcularmos um intervalo de valor que estaríamos dispostos a negociar nossa companhia. Utilizamos esta ferramenta geralmente quando queremos captar dinheiro de investidores ou mesmo quando queremos vender nossos ativos.
Companhias valem pela sua capacidade de gerar caixa e não pelo valor do seu patrimônio. Basicamente queremos saber quanto uma empresa vale hoje baseado em como se desenvolverá no futuro. Quanto maior for o seu potencial de geração de caixa e menor os riscos envolvidos, maior é o seu valor.
O valor muda com frequência, seja a cada evolução operacional, mudança de mercado ou pelo lançamento de um novo projeto, mesmo que este seja apenas uma ideia.
Quanto maior o crescimento percebido, maior o valor das companhias. Quem cresce mais, vale mais. Geralmente o crescimento está relacionado à capacidade das companhias de se diferenciarem e de manterem seu nível de competitividade.
Os métodos para avaliação de empresas geralmente utilizam conceitos de matemática, contabilidade e finanças, o que nos faz inferir que são totalmente quantitativos e que bastam apenas números para calcularmos os valores. Entretanto, este é mais um mito sobre valuation, pois apesar de a maioria dos modelos serem quantitativos, a decisão de investimentos pode ser em grande parte qualitativa e principalmente relacionada aos riscos envolvidos no seu desenvolvimento.
Investidores costumam dizer que avaliar companhias em estágio inicial é parte ciência e parte arte. A arte de calcularmos o valor das empresas está em como determinamos as premissas que usaremos nos modelos matemáticos, sendo que estas premissas podem ser quantitativas, qualitativas e até subjetivas. Evidentemente que todas devem se refletir em números. Contudo, como explicar as premissas de forma realista é das questões mais importantes e fator crítico para a qualidade do valuation.
Há diversos modelos de avaliação, quantitativos e qualitativos, contudo nenhum deles é perfeito para avaliarmos companhias startup, assim, eles podem ser complementares na análise. Para se avaliar empresas startup, a combinação de modelos pode trazer importante visão, não somente de valor, mas principalmente dos riscos.
O modelo do fluxo de caixa descontado é dos modelos quantitativos mais utilizados e eficazes para a avaliação de empresas. Consiste em calcular o valor presente de um fluxo de caixa projetado de uma companhia, considerando todo o seu potencial de crescimento. Baixe aqui uma ferramenta exclusiva para fazer o cálculo do valuation a partir do fluxo de caixa descontado.
O processo de análise começa com a formação de uma história que descreve como a companhia se desenvolverá. Para isso, é importante uma visão sobre o que esta companhia já realizou e como ela está inserida dentro de sua arena competitiva. A história deve conter um cenário de desenvolvimento que considera seus principais direcionadores de valor, ou seja, quais os aspectos e premissas mais importantes que vão determinar o seu desenvolvimento ao longo dos anos.
Com o cenário de desenvolvimento desenhado, monta-se uma projeção de resultados e de fluxos de caixa futuros da companhia que será descontado por uma taxa que represente o seu custo do capital. Esta taxa de desconto reflete o custo que os investidores e financiadores cobrarão da companhia em função do seu risco. Companhias menos arriscadas requerem menores taxas de desconto.
Há diversos desafios a serem superados para uma boa avaliação de empresas startup. Conseguir informações confiáveis e estimar taxa de crescimento, tamanho de mercado, taxa de desconto e a margem operacional, são alguns dos desafios a se superar, o que pode inclusive determinar a qualidade da avaliação.
Muitos acham que o valor das startups não está principalmente associado aos seus resultados, mas à sua capacidade de crescer aceleradamente. Cuidado. Sem resultados no curto prazo, dificilmente as empresas conseguirão atingir a maturidade.
Começar uma companhia num setor de alto potencial é importantíssimo para atrair investidores, porém não se iluda somente com o enorme valor que as projeções podem apresentar.
Procure justificar como a empresa executará seu plano de negócios para realmente conseguir criar todo o valor que a avaliação apresentou.Lembre-se: a arte de avaliar bem as companhias está no potencial de imaginarmos o seu futuro, mas é imprescindível que nossa imaginação também preveja uma argumentação consistente, especialmente em relação às premissas utilizadas.
Fonte: * Publicado por Ricardo Mollo, CEO da Brain Business School, em Endeavor www.endeavor.org.br – 24/09/2017