Lactalis compra a Itambé e vira líder em leite no Brasil

Depois de uma tentativa frustrada de comprar a Vigor – que acabou nas mãos da mexicana Lala -, a francesa Lactalis surpreendeu ontem o mercado com o anúncio da aquisição de 100% das ações da mineira Itambé Alimentos, que mal acabara de voltar ao controle da Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR). Com a transação, a Lactalis, que chegou ao Brasil em 2013 com a compra da Balkis, passará a liderar a captação de leite no país.

O negócio entre CCPR e Lactalis, antecipado pelo Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, marca um reviravolta numa operação deflagrada após a venda da Vigor, que era da J&F, para a Lala, em agosto passado. A transação incluía os 50% que a Vigor detinha na Itambé. Os 50% restantes eram da CCPR, que tinha direito de preferência para recomprar a participação em caso de venda da Vigor.
Em setembro, a CCPR anunciou que exerceria o direito de preferência para recompra dos 50% da Itambé – que havia passado para as mãos da Lala -, operação concluída na última segunda-feira, por R$ 700 milhões. Desde que a central de cooperativas anunciou que faria a recompra havia dúvidas sobre como financiaria a operação. Mas o que a decisão de fazer a recompra deixou claro, segundo fontes do mercado de lácteos, é que a CCPR havia considerado injusto o valor que a Lala atribuiu à Itambé na negociação.

Quando anunciou a compra das operações, a Lala atribuiu um valor de R$ 5,725 bilhões por 99,9% da Vigor e até 100% das ações da Itambé. O valor atribuído à Vigor nesse montante foi de R$ 4,325 bilhões, e aos 100% da Itambé, de R$ 1,4 bilhão.

Embora o valor do negócio entre Lactalis e CCPR não tenha sido revelado, a avaliação de fontes do mercado é que superou o ofertado pela mexicana Lala. Informações que circularam ontem indicavam que teria ficado na casa dos R$ 1,9 bilhão.

Segundo essas mesmas fontes, as negociações entre a francesa e a mineira foram rápidas. Dias antes do anúncio da aquisição veio a publico que a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) havia sinalizado que garantiria a recompra da participação na Itambé pela CCPR.
A empresa de desenvolvimento, controlada pelo governo de Minas Gerais, publicou, no dia 27 de novembro, ata de reunião de acionistas realizada em 20 de setembro na qual seu conselho de administração autorizava um aporte de R$ 587,025 milhões, por meio da Codemig Participações (Codepar), para auxiliar a CCPR na recompra dos 50% da Itambé.A Codepar fora “autorizada a aportar o valor de R$ 587,025 milhões, seja através da aquisição das ações da Itambé ou através da celebração de instrumentos financeiros de dívida com a CCPR”.

Questionada sobre a ata no fim de novembro, a Codemig informou ao Valor que fazia “parte de um grupo de financiadores e investidores que está avaliando o investimento junto à CCPR, dentre eles gestores de recursos, bancos e outras empresas”.  Antes disso, o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) já havia admitido que participava de um sindicato de bancos que analisava a concessão de financiamento para a CCPR recomprar 50% da Itambé.

Em comunicado conjunto divulgado ontem, CCPR e Lactalis informaram que o negócio, que criará “o líder nacional em produtos lácteos”, inclui também um acordo de fornecimento de leite de longo prazo da CCPR para a Itambé “com vistas a preservar e permitir o crescimento das bacias leiteiras de Minas Gerais e Goiás”.

Segundo as empresas, a expectativa é que a operação seja concluída no primeiro semestre de 2018. Marcelo Candiotto, que preside a CCPR, vai acumular a presidência da Itambé até abril do ano que vem. O negócio está sujeito à aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

E a operação também pode ser alvo de questionamentos pela Lala, segundo pessoas familiarizadas com o tema. A razão é que durante as negociações para a venda da Vigor pela J&F foi feito um contrato de confidencialidade, pelo qual as empresas que participaram do processo de compra e apresentaram oferta pela companhia de lácteos não poderiam negociar com a CCPR pelo período de dois anos. Foi exatamente o que ocorreu com a Lactalis, que também apresentou proposta pela Vigor, mas perdeu a disputa para a Lala.

Fonte: www.valor.com.br – por Alda do Amaral Rocha – 06/12/2017

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