Com China, sobe valor médio de aporte no país

No biênio 2016-2017 os estrangeiros elevaram o valor do “tíquete médio” dos investimentos em fusões e aquisições no Brasil. Em 2012/2013, o valor investido por operação foi de US$ 82,1 milhões. No biênio seguinte subiu para US$ 92 milhões. Nos últimos dois anos, saltou para US$ 170 milhões.

Uma das explicações para isso é a participação da China nos grandes leilões da área de infraestrutura, com valores bilionários. Somente o investimento da State Grid Corp of China na CPFL Energia nos últimos dois anos ultrapassou os US$ 12 bilhões. A aposta chinesa em grandes projetos, principalmente na área de infraestrutura, resultou num valor investido por operação de US$ 1,03 bilhão nos últimos dois anos.

Embora com valores menores, o Canadá e a Noruega também se destacaram com investimentos pesados nos últimos dois anos, com aplicação por operação de US$ 610,9 milhões e US$ 507,1 milhões, respectivamente. Os cálculos foram feitos com base em levantamento da consultoria Dealogic, que leva em conta a data de anúncio dos investimentos.

Os três países também foram os que mais investiram no ano passado. A China, com US$ 10,7 bilhões, foi seguida pelo Canadá, com aplicações de US$ 5,3 bilhões, e pela Noruega, com US$ 4,5 bilhões. O investimento total estrangeiro em fusões e aquisições no país chegou a US$ 33,6 bilhões no ano passado, pouco abaixo dos US$ 36,5 bilhões de 2016. O perfil de maior concentração dos valores aplicados por operação que marcou 2016, porém, foi reforçado no ano passado.

Pelos dados do Banco Central (BC), os investimentos externos que ingressaram no ano passado como participação no capital somaram US$ 60,35 bilhões, com liderança dos EUA, responsáveis por US$ 11,1 bilhões. Em segundo lugar aparece a Holanda (US$ 10,9 bilhões).

Os dados do BC são diferentes porque levam em consideração o país pelo qual o recurso investido passou por último antes de chegar ao Brasil. A Dealogic considera o país de origem do investidor. De qualquer forma, os dados do BC também mostram bom desempenho dos investimentos estrangeiros. No ano passado houve alta de 12% em relação ao valor que ingressou em 2016.

Para Welber Barral, sócio da Barral M Jorge e ex-secretário de Comércio Exterior, o preço estimulou os pesados investimentos externos. Com a crise, diz, os ativos ficaram relativamente baratos no Brasil e os investidores aproveitaram as oportunidades. Esse cenário, avalia, não deve mudar este ano, ou no curto prazo, já que o fluxo de caixa descontado projetado para dez anos, e contabilizado a valor presente, é o principal critério usado para precificar os ativos.

“À medida que a recuperação da economia após a depressão de 2015 e 2016 se torna mais viável, o risco cai para o cálculo da lucratividade futura e os ativos ficarão mais caros. Mas antes haverá um período de transição, porque há muitas empresas à venda, além de insegurança em relação ao cenário político, mesmo com expectativa de expansão do PIB em torno de 2,5% a 3% para 2018”, afirma Barral.

Dentre os investidores que aproveitaram as boas oportunidades, o destaque dos analistas é a atuação da China, por ser detentora de capital e investidora estratégica de longo prazo. “Os dados mostram sobretudo o predomínio da China como novo parceiro importante, principalmente em projetos de infraestrutura, como energia elétrica e transportes, o que é positivo para o país”, diz Luis Afonso Lima, diretor da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica (Sobeet) e economista da Mapfre Investimentos. A participação dos chineses, segundo ele, é bem-vinda num momento em que o governo federal tenta retomar o programa de concessões e privatizações.

Para Lima, não há receio em relação a alguma dependência dos investimentos chineses. “O estoque ainda tem grande participação dos americanos e dos espanhóis e por isso não há preocupação com isso.”

A entrada forte de investimentos do Canadá e da Noruega, em áreas como energia e petróleo, também é uma boa notícia, destaca ele. No ano passado, o investimento canadense de destaque divulgado foi o de US$ 4,8 bilhões da Paper Excellence na Eldorado Brasil Celulose. No caso dos noruegueses, a maior aplicação anunciada em 2017 foi de US$ 2,9 bilhões  da Statoil, no Campo de Roncador.

Lima também destaca os EUA, que entraram com o terceiro maior volume de investimento quando se considera o biênio 2016- 2017. Os americanos, porém, têm perfil diferente de investimentos, mais pulverizado e mais concentrado em empresas de setores como serviços e indústria de transformação, explica. Nos últimos dois anos, as aplicações em fusões e aquisições com capital originado nos EUA somaram US$ 9,9 bilhões distribuídos em 113 operações, o que equivale à média de US$ 87,8 milhões investidos em cada negócio.

Em relação a esses investimentos mais pulverizados, em empresas de serviços e indústrias, afirma Lima, o principal imã em períodos anteriores era o mercado interno, que acabou perdendo força, com redução de renda e de crédito no período de crise. Um obstáculo, diz ele, é a produtividade, que deixa os ativos menos atraentes. Esse é um indicador no qual as empresas brasileiras não têm conseguido avançar na mesma velocidades das de outras economias, diz o economista.

Para 2018 e os próximos anos, a expectativa é que os novos parceiros surgidos nos últimos anos estejam presentes no programa de leilões que o governo federal pretende acelerar a partir deste ano, avalia Lima. Em relação a todos, e principalmente aos investimentos americanos, diz ele, é preciso lembrar a mudança tributária dos EUA, que levou a uma redução do imposto de renda pago pelas empresas. Com a reforma americana, a tributação sobre o lucro das empresas caiu de 35% para 21% e os 34% em tributos sobre os lucros cobrados no Brasil deixam de ser compensados para o fisco dos EUA.

Na última vez em que algo semelhante aconteceu foi quando o ex-presidente George Bush reduziu o imposto de renda. “Houve repatriação de 95% dos investimentos americanos no mundo”, lembra Lima.

O economista destaca ainda que, apesar do otimismo com a atração de recursos externos, o Brasil tem perdido participação nos investimentos diretos externos do mundo. Em 2010, lembra, a participação era de 6,1%. “Em 2017 foi de 3,9%. Éramos em 2010 a quinta economia que mais recebia investimentos externos diretos. Agora somos a sétima.”

Fonte: www.valor.com.br – 09/04/2018